Durante o mês de abril, Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, se veste de vermelho e branco. A cidade respira fé, devoção e cultura popular para celebrar São Jorge, o Santo Guerreiro, figura que há séculos inspira gerações por sua força, coragem e simbologia.

Oficialmente feriado municipal e estadual, o dia 23 de abril é para os iguaçuanos mais do que uma data religiosa, é a celebração de um patrimônio imaterial que traduz a identidade e a força de um povo.

CAVALEIRO DOS TEMPLÁRIOS

Conhecido como “O Cavaleiro dos Templários”, São Jorge ultrapassou fronteiras geográficas e religiosas, sendo cultuado tanto por católicos quanto por devotos de matrizes africanas.

Seu culto, enraizado no Oriente e difundido no Ocidente pelas Cruzadas, encontrou no Brasil um solo fértil para florescer com ainda mais intensidade, especialmente em Nova Iguaçu, onde a festa em sua homenagem é considerada uma das maiores do país.

A PROCISÃO, O ANGU DO GUERREIRO E SALVE JORGE

A Paróquia Nossa Senhora de Fátima e São Jorge, é o principal palco dessa grande manifestação popular.

Durante quatro dias, de 20 a 23 de abril, Nova Iguaçu é tomada por missas, procissões, comidas típicas, música e emoção.

Entre os destaques da programação estão o saboroso “Angu do Guerreiro”, a grande procissão no dia 23, reunindo milhares de fiéis vestidos com as cores de São Jorge,  e as performances artísticas, especialmente a apresentação do ator Augusto Vargas, que vive o Santo Guerreiro no espetáculo Salve Jorge, tendo a seu lado as atrizes Silvia Regina e Ana Márcia Mixo, que representam as mães de Jorge; o balé de Pity Rocha, acompanhados do Maracatu Baque da Mata, que dá uma vida e memória especial ao espetáculo, e os figurinos e cenografia do artista plástico Raimundo Rodriguez.

A FORÇA, A ESPERANÇA E A FÉ

Muito mais que uma figura religiosa, São Jorge representa a força do trabalhador, a esperança do pobre, a bravura do guerreiro.

No sincretismo religioso, São Jorge é Ogum, o orixá do ferro e da luta. Essa conexão com o ferro, elemento essencial às batalhas e à sobrevivência de comunidades antigas, reforça ainda mais a simbologia do santo como defensor dos oprimidos.

PATRIMÔNIO IMATERIAL

Essa herança simbólica e afetiva compõe o que chamamos de patrimônio imaterial.

Definido pela Constituição Federal de 1988 e pela UNESCO, os bens culturais imateriais são práticas, saberes e celebrações transmitidas entre gerações, que fortalecem a identidade dos povos e devem ser protegidos pelo Estado

BEM CULTURAL DE NOVA IGUAÇU

Em sintonia com as diretrizes de proteção ao patrimônio, a Festa de São Jorge vem sendo tratada como bem cultural imaterial de Nova Iguaçu.

O objetivo é garantir sua salvaguarda, valorização e continuidade, reconhecendo seu papel como manifestação de fé, resistência e pertencimento.

A legislação municipal (Lei nº 3.837/2007) e estadual (Lei nº 5.198/2008) asseguram o feriado em homenagem a São Jorge. Para isso, são considerados critérios como a participação comunitária, a continuidade histórica da celebração e o impacto sociocultural.

UMA FESTA POPULAR

A Festa de São Jorge em Nova Iguaçu atrai pessoas de todas as idades e origens. É um evento inclusivo, que mistura fé, música, gastronomia, arte e devoção, reunindo famílias, turistas e religiosos.

E, acima de tudo, é um espaço de celebração da diversidade cultural brasileira, onde tradições religiosas se encontram com expressões artísticas e populares.

TRECHO DA ORAÇÃO DE SÃO  JORGE

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

(*)Com colaboração de Augusto Vargas