Na versão dirigida por Deborah Colker, a música clássica do compositor russo Igor Stravinsky encontra ritmos brasileiros no espetáculo “Sagração”, inspirado por visões ancestrais sobre a origem do mundo.
O espetáculo “Sagração”, dirigida por Déborah Colker, que retorna hoje em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, é uma livre adaptação de “A Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky, que ganhou projeção mundial pela montagem que estreou em Paris em 1913, com coreografia do bailarino Vaslav Nijinsky e produção de Sergei Diaghilev para os Ballets Russes.

“SAGRAÇÃO”
O processo criativo de “Sagração” durou dois anos e meio. A composição musical é considerada revolucionária por introduzir estruturas rítmicas e harmônicas nunca antes utilizadas em partituras.
“Quando decidi recontar esse clássico, pensei que teria de ser a partir da cosmovisão de povos originários do Brasil”, lembra Deborah. “Stravinsky foi responsável por pontos de ruptura e provocação entre o erudito e o primitivo, e ‘A Sagração da Primavera’ representa esses pontos de evolução da humanidade”.

KUARUP
Foi em uma viagem para o Xingu, durante o Kuarup, e no encontro com as aldeias indígenas Kalapalo e Kuikuro, que Deborah conheceu o cineasta Takumã Kuikuro, que contou à ela como o povo do chão recebeu o fogo do Urubu Rei.
Essa história é dançada e acompanhada por narração do próprio Takumã e faz parte da coleção de cosmogonias que a diretora reuniu para montar a dramaturgia do espetáculo.

MITOLOGIA JUDAICO-CRISTÃ
“Tudo só poderia ter começado com uma mulher. Uma avó. A avó do mundo”, conclui Deborah, que com a assessoria de Nilton Bonder, revisitou a mitologia judaico-cristã.
Do livro “Gênesis”, as passagens sobre Eva e a serpente e também Abraão ganham cenas que destacam momentos de ruptura. “São dois mitos que elaboram sobre a consciência humana: pela autonomia de uma mulher que desperta para caminhos interditados e transgride; e de um homem que sai da sua casa e cultura em direção a si mesmo”, destaca Nilton Bonder.
Além das alegorias bíblicas, a coreógrafa também buscou referências na literatura científica.

FLAUTA, MARACÁ, CAXIXI E TAMBORES
Deborah Colker, em parceria com o diretor musical Alexandre Elias, introduziu à partitura instrumental de Stravinsky a sonoridade pujante das florestas e ritmos brasileiros: Boi bumbá, coco, afoxé e samba foram introduzidos à criação de Stravinsky.
Aos acordes de instrumentos de orquestra, o diretor musical adicionou flauta de madeira,maracá, caxixi e tambores.

PAUS DE CHUVA E BAMBUS
Os paus de chuva também entram em cena no arranjo executado ao vivo pelos bailarinos.
E, para dar vida às narrativas e trajetórias do espetáculo, o cenógrafo Gringo Cardia incorpora 170 bambus de 4 metros de altura que simbolizam resistência e flexibilidade.

COMPANHIA DEBORAH COLKER
Fundada em 1994, a Companhia Deborah Colker realizou mais de duas mil apresentações em mais de 100 cidades de 35 países, totalizando um público de cerca de 4 milhões de pessoas em todas as suas performances.
“Durante esses anos, assistimos e participamos de muitas transformações na cultura, na política e na economia. Chegamos até aqui porque temos este espírito de evolução, que é um tema muito precioso para o novo espetáculo”, avalia o diretor executivo João Elias, que fundou a companhia de dança com Deborah Colker.

A “SAGRAÇÃO”
Após uma primeira semana de sucesso, o espetáculo volta hoje em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, vinculado à Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo e gerido pela Associação Paulista dos Amigos da Arte.
“Sagração” estreou no dia 21 de março de 2024 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

FICHA TÉCNICA:
Criação, Direção e Dramaturgia
Déborah Colker
Direção Executiva
JOÃO ELIAS
Direção Musical
ALEXANDRE ELIAS
Direção de Arte
GRINGO CARDIA
Dramaturgia
NILTON BONDER
Figurinos
CLAUDIA KOPKE
Desenho de Luz
BETO BRUEL
Fotografia
FLÁVIO COLKER

Serviço:
“Sagração”
Teatro Sérgio Cardoso
Endereço: Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo
Temporada: de 11 a 15 Junho
Quarta a sábado 20h
Domingo 17h
Ingressos: R$ 40,00 a R$ 160,00