Muitos anos se passaram, mas, quem vive de cinema no Brasil, e das artes numa forma geral, nunca perde a esperança.
No início de 2016 – há quase dez anos, portanto – num desses encontros casuais na Baixada Fluminense, Heraldo HB me contava a dificuldade de se fazer cinema na região, sem apoio, mas com uma força extraordinária, característica imprescindível dos grandes criadores.
Na época, ele e Igor Barradas, reunia ideias e parcerias para concluir o que viria a ser o grande filme de suas vidas, o documentário “Amuleto”.
Durante anos a dupla reuniu documentos, depoimentos, fragmentos e tudo que pudesse parecer importante para recriar a trajetória de um dos grandes filmes do cinema brasileiro, “O Amuleto de Ogum”, rodado no início dos anos 70, em Duque de Caxias, e dirigido por um do mais influentes e premiados cineastas brasileiros, Nelson Pereira dos Santos.
Amanhã, em sessão para convidados no Estação Net Gávea, “Amuleto”, dirigido pela dupla, fará sua estreia nacional na Première Brasil do Festival do Rio, a maior vitrine do cinema brasileiro.
O filme, selecionado para a categoria “Competição – Documentário”, é um reconhecimento da sua relevância e da potência narrativa e histórica.
Do bate-papo com Heraldo HB – que me enviou um print, esta semana, por mensagem – publiquei na coluna de Cultura do Extra, no dia 11 de março de 2016, o texto abaixo, que vale como um registro do talento e da conexão da Baixada com o que temos de melhor na arte de produzir cinema e grandes espetáculos.

O amuleto da Baixada
Por Alberto Aquino*
Na década de 70, numa cidade dominada pela violência e pelo medo, havia um homem que sonhava ser cineasta. Exímio contador de histórias, produzia um cine-jornal e foi motorista de Tenório Cavalcanti, o lendário Homem da Capa Preta.
Na festejada Zona Sul do Rio de Janeiro, havia um consagrado cineasta que queria fazer um filme com apelo popular, diferente de tudo o que já havia feito. Do encontro dos dois, surgiu “O Amuleto de Ogum”, um dos filmes mais festejados do Cinema Novo. Totalmente rodado em Caxias, o filme se tornou um dos marcos do cinema nacional.
TENÓRIO
O contador de histórias era Francisco Santos, paraibano que chegou a Duque de Caxias com 16 anos e que, de tanto ouvir as histórias extraordinárias de Tenório Cavalcante, escreveu o roteiro e atuou no filme “O amuleto de Ogum”.
O cineasta, Nelson Pereira dos Santos, diretor consagrado que já havia dirigido filmes premiados internacionalmente como “Vidas secas”, que recebeu três prêmios no Festival de Cinema de Cannes em 1964.

Foto/Crédito: Noelia Albuquerque.
AMULETO
Quarenta anos depois, a galera do cineclube Mate com Angú convidou Nelson Pereira dos Santos para voltar a Caxias para uma projeção histórica de “O amuleto de Ogum”.
A visita à cidade foi registrada em detalhes, que, tempos depois, junto a depoimentos, documentos e entrevistas com a equipe de produção do filme original, deu origem ao documentário “Amuleto”, o filme sobre o filme.
Esta semana o teaser de “Amuleto”, produzido por Circular Filmes e Mate com Angú, em parceria com a Cavideo e Mar Aberto Filmes, entrou na página oficial da produção.
De acordo com os diretores, Igor Barradas e Heraldo HB, o documentário está em fase final de produção.
“Estamos abertos a parcerias”.
Um sucesso que promete invadir as telas dos cinemas de todo o país.

Foto/Capa: Igor Freitas Lima.
(*) Publicado no jornal Extra em 11 de março de 2026